sexta-feira, 21 de setembro de 2012

População de rua: ações, perspectivas e desafios


“Os rótulos e estigmas da população de rua precisam ser ressignificados para não haver preconceito e exclusão. O dispositivo Consultório na Rua é potencial para introduzir essa população no Sistema Único de Saúde, tendo como porta de entrada a atenção básica”, destacou o apoiador institucional do Departamento de Atenção Básica do Ministério da Saúde, Alexandre Trino, no I Seminário de Experiências da Atenção Primária em Saúde com População de Rua. O evento, coordenado pela pesquisadora do Teias-Escola Manguinhos Mirna Teixeira, iniciou na quarta-feira (19/9) e prossegue até sexta-feira (21/9), com apresentações de experiências exitosas no tratamento da população de rua em diversos estados do país. Trino, responsável pela palestra de abertura, explicou conceitos fundamentais para profissionais que atuam com população de rua. Confira na Biblioteca Multimídia da ENSP as apresentações do seminário.

Alguns destaques
Valcler Rangel - vice-presidente de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde da Fiocruz, também presidente da Comissão Brasileira de Drogas e Democracia, representando o presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha  há necessidade de trabalhar a temática das drogas relacionada à população de rua, por meio de uma abordagem integral da questão no âmbito da saúde pública. “O crack e sua relação com a população de rua é o tema que mais nos desafia na saúde pública”. 

Elyne Engstrom - coordenadora da iniciativa Teias - há falta de respostas do setor da saúde em relação à população de rua. “Existem grupos que necessitam de um olhar mais específico e precisam ser incorporados pelo SUS. (...) A concentração de pessoas vivendo na rua em Manguinhos é muito grande e não está relacionada somente ao crack. Existem também o vício em álcool e a extrema pobreza. Para conseguirmos dar assistência a essa parcela da população, é necessária a integração de todos os serviços. Apenas uma iniciativa não resolve a questão. É preciso trabalhar principalmente a atenção básica e a saúde mental para oferecer um cuidado integral.”

Claudia Gomes Paula e Silva - Equipe Saúde e Movimento nas Ruas, do Centro de Atenção Psicossocial (CAP) 1.0 (Região do Centro do Rio de Janeiro) - palestra A experiência na Atenção Primária à Saúde com atendimento à população de rua - A equipe utiliza a psicologia do Programa de Saúde na Família como estratégia de tratamento. É feita, também, a sistematização de estratégias para melhor resultado. A Equipe Saúde e Movimento nas Ruas tem dois anos de atuação e, atualmente, estão cadastrados 4.200 moradores de rua.

Marcelo Soares - enfermeiro da equipe Consultório na Rua do Teias-Escola Manguinhos - Explicou que o território de Manguinhos é coberto pela Estratégia de Saúde da Família, uma parceria entre a Fiocruz e a Secretaria Municipal de Saúde e Defesa Civil do Rio de Janeiro (SMSDC-RJ). Ao todo, são 14 equipes atuando, com 7 lotadas no Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria (CSGSF/ENSP) e 7 na Clínica da Família Victor Valla. O Consultório na Rua em Manguinhos, iniciado em 2011, age na lógica da redução de danos, pois trabalha com a saúde pactuada nos princípios dos Direitos Humanos. “Nem todos os pacientes são usuários de drogas que desejam, de fato, largar as drogas. Por isso, atuamos com a lógica da redução de danos”, explicou ele. O perfil dos moradores de rua cadastrados com CR: 56% estão na faixa etária entre 18 e 28 anos, sendo a maioria homens, da cor parda, que passam a maior parte do dia na rua; 47% não possuem nenhum tipo de documento; e 99% são usuários de álcool e drogas - destes, 60% são usuários de crack. Para obter efetividade, é preciso fortalecer o trabalho integrado. 

Daniel de Souza - Programa de Saúde da Família do Jacarezinho (CAP 3.1) - Desde abril de 2012, o projeto atende cerca de 70 usuários por dia, e 90% das demandas são para cuidados clínicos imediatos e de assistência social. “Já realizamos o cadastro de 237 usuários na região; 50,65% homens e 49,3 mulheres, sendo 21 crianças e adolescentes na faixa etária entre 8 e 17 anos. 

Vera Martinez Manchini - Programa de Saúde da Família (PSF), da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo - O programa está em fase de transição de PSF Especial para Consultório na Rua. Hoje existem 10 equipes atendendo a população de rua residente na região central de São Paulo. “Temos 26 mil pessoas morando nas ruas de São Paulo. A maioria adulta (80%) e do sexo masculino. Atuar nessa área é um grande desafio, mas a cada dia aprendemos com as experiências que encontramos nas ruas.”

Fonte: Informe Ensp/Fiocruz - Tatiana Vargas - Publicada em 

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