Matéria de Eduardo Sá, do Fazendo Média, nos traz mais um capítulo claro das relações de poder com que o estado-sede da Rio+20 e da Cúpula dos Povos trata a sociedade civil organizada e a população que buscam proteger áreas na mira dos interesses financeiros.
Entre as várias questões que se colocam com a ordem judicial de despejo, desta organização cujos componentes em sua maioria são moradores da região, diz respeito ao direito da sociedade lutar pelos acordo internacionais que o Brasil assina. Lá fora, o Estado Brasileiro diz que os países devem zelar pelo meio ambiente utilizando o conceito de sustentabilidade. Uau... bonito discurso... mas na prática... Mas, enfim, vamos à matéria que você poderá ver na íntegra clicando no final do texto..
Na tarde de segunda-feira, 6/8, no Engenho da Rainha, zona norte carioca, representantes da Light S.A junto a policiais militares autorizaram a demolição da sede da ONG Verdejar, que realiza há mais de 15 anos um trabalho sócio ambiental no Parque da Serra da Misericórdia. A liminar de reintegração de posse foi dada pela desembargadora Norma Suely Fonseca, para viabilizar a construção de uma subestação da concessionária para atender a região.
As pessoas que se encontravam no local disseram que ninguém foi previamente avisado, inclusive só ficaram sabendo porque tinha um integrante da instituição na hora regando as plantas (veja o relato da Verdejar). Em poucas horas toda a casa foi posta abaixo e seus pertences, incluindo muitas mudas para o reflorestamento local, um de seus projetos, levadas num caminhão para a sede administrativa, em Olaria. Um banheiro ecológico, recém construído, e um sistema de captação de água da chuva também foram destruídos. Houve confusão no momento, mas ninguém saiu ferido ou preso.
Edson Gomes, presidente da Verdejar: a organização acionou a defensoria pública para entrar com a sua documentação no processo e tentar uma oitiva com a desembargadora. Buscarão uma reunião com o secretário municipal de Meio Ambiente, Altamirando Fernandes, sobre a Serra da Misericórdia e Light. Eles têm: alvará para atuar no território, relógio da Light em nome da ONG Verdejar, o endereço está no processo, documento da Secretaria de Meio Ambiente reconhecendo o nosso trabalho nessa área, organizações preparam um abaixo-assinado.“Vamos ocupar temporariamente toda essa fachada com arte e ações de plantio, até que se resolva o problema desse inquérito."
Avaliação da Verdejar: Este é mais um caso que exemplifica o estado de exceção existente em diversos pontos isolados do Rio de Janeiro, em função das grandes obras e de uma expansão desordenada da cidade. “Estavam com policiais militares assegurando a segurança do interesse do capital privado, e não da população. Estamos nos sentindo violentados, nenhum dos nossos direitos foram respeitados. A gente teve hoje o nosso espaço esvaziado e a nossa sede demolida, uma sede que estamos há anos lutando para construir”, criticou.
Juvenildo Barbosa, da área de patrimônio da Light, coordenador da operação no local: A Light informou em nota que a subestação vai beneficiar cerca de 200 mil pessoas do Complexo do Alemão e entorno. A partir do dia 6/08, com o terreno sob responsabilidade da concessionária, serão realizados os estudos necessários para começar as obras de utilidade pública. Os moradores provavelmente não serão indenizados, pois o terreno pertence a uma empresa [massa falida] e era apenas utilizado pela Verdejar. O procedimento padrão é a realização de um levantamento do patrimônio para os valores serem depositados numa conta acessada via justiça pelo proprietário, que no caso não existe. “O que é fato para nós da Light é que temos uma deficiência no sistema de fornecimento de energia, e vamos precisar construir diversas outras subestações”.
Moradores indignados: Surpresa, indignação, apatia. A filha de Luiz Poeta, pioneiro do projeto morto no ano passado, Luara Marins, mal conseguia expressar sua insatisfação com o que estava vendo. Ela mora desde 2009 no topo da Serra, onde foi construída uma cisterna recentemente para irrigar as hortas, seguindo a trilha que começa na sede destruída. Chorando, ela conta que acompanhou toda a história da Verdejar desde pequena e que, se preciso, o projeto vai continuar nem que seja com reuniões no mato. “Eles não avisaram 15 dias antes e nem na hora, se não tivesse gente dentro não ficaríamos nem sabendo!”, disse indignada.
Sergio Silva, presidente da Associação de Moradores da comunidade, próximo ao Verdejar: Ele lembrou a luta da ONG contra grileiros e traficantes para manter aquela região desocupada e preservada. Foi um ato de covardia do prefeito Eduardo Paes, que está em ano de campanha atendendo os interesses dos seus aliados. “Não temos barraco aqui por causa da luta do Verdejar, junto com a associação de moradores. Quem vendeu esse terreno para a Light foi o prefeito Eduardo Paes, sem conversar com a comunidade. Uma área que se mantinha preservada com projetos de replantio, a custo de muito suor. A Verdejar foi surpreendida com uma ordem judicial de desapropriação, sem nenhum um prévio aviso. Pedimos 12 horas para que pelo menos tivéssemos um lugar para colocar todas as coisas, e eles não deram. "O poder público só chega nas comunidades com a força policial, e não há a mão do prefeito em nada nestes locais." A única área de lazer para as crianças na região o prefeito sequer consultou a comunidade, mesmo sendo área de preservação ambiental.
A Light, até o fechamento da matéria, não informou quais as empreiteiras que integram o consórcio que realizará as obras da subestação.
A Light, até o fechamento da matéria, não informou quais as empreiteiras que integram o consórcio que realizará as obras da subestação.
(*) Veja a reportagem completa, realizada há quatro meses na sede da instituição, sobre o trabalho desenvolvido pela Verdejar. Ou clique abaixo e leia a matéria completa.
Fonte: http://www.fazendomedia.com/verdejar-e-despejada-do-parque-da-serra-da-misericordia-pela-light/