É possível encontrar o caminho de volta, mesmo para crianças e jovens que trabalham no tráfico de drogas em favelas do Rio de Janeiro. É isso que a psicóloga social Andréa Silva Rodriguez mostra no livro “Labirintos do tráfico”, lançado no Complexo da Maré. Ela explica que existem poucas ações voltadas para ajudar os jovens a sair do crime organizado, o que “fortalece a ideia de que uma vez no tráfico, para sempre no tráfico”.
O trabalho de pesquisa teve como ponto de partida a atuação da psicóloga dentro de diferentes projetos e organizações que proporcionou reflexões, experiências, trocas metodológicas e aprendizados dentro do contexto da favela. Os dados utilizados compreendem a observação participante no contexto da favela entre os anos de 2005 e 2009, a experiência de intervenção no programa do Observatório de Favelas “Rotas de Fuga” (2004 a 2007) e entrevistas com ex-integrantes do tráfico e profissionais que atuam com esse público em diversas áreas. O livro é uma versão resumida da tese de doutorado de Andréa Silva, escrita entre os anos de 2007 e 2011.
“Estas vivências instigaram o desejo de investigar mais a fundo um grave problema social na cidade do Rio de Janeiro: a situação de crianças, adolescentes e jovens que trabalham no tráfico de drogas em favelas”, afirma Andrea. Ela acrescenta que o problema é complexo e envolve vários segmentos sociais, mas espera contribuir para aprofundar o debate sobre o tema.
De acordo com a psicóloga, o que mais surpreendeu durante a pesquisa foi ver como a atuação de profissionais no atendimento direto a esses meninos é capaz de mobilizá-los para sair do tráfico. “Esses jovens, que não costumam confiar em ninguém, são capazes de sentir quando você acredita neles, não os teme e se coloca disponível para trabalhar junto e não oferecer todas as respostas. Até porque nós não tiramos ninguém do tráfico, eles precisam se envolver e ter uma participação ativa nesse processo de saída”.
O resultado final mudou a opinião que Andréa tinha a respeito da vida que essas pessoas levam. “São jovens com sonhos e projetos como qualquer outro da mesma idade e a grande diferença é que usam a violência como expressão principal e detêm o poder das armas e da intimidação, mas isso não os torna unicamente culpados pela violência urbana que vivemos, nem unicamente coitados pela situação em que se encontram”, disse. “Na verdade, são responsáveis, vitimas num certo sentido e agressores em outro”, conclui a escritora.
Nenhum comentário:
Postar um comentário