quinta-feira, 22 de março de 2012

Em sete meses, a destruição

Por: Martha Neiva Moreira - Razão Social

Pelo menos dez árvores mortas, duas com galhos quebrados, mobiliário destruído, lixo no chão e piso mau conservado.  Este é o retrato da praça do Complexo de Manguinhos, situada em frente à Biblioteca Parque e inaugurada há dois anos. 

Com a proposta de ser um espaço de convivência dos moradores da comunidade, beneficiados pelo Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) que construiu na região um conjunto habitacional e com a presença maciça de órgãos do Estado em seu entorno, a expectativa era de que ela fosse bem cuidada pela população local.

Além de uma escola, há em volta da praça uma Unidade de Pronto Atendimento, uma clínica de família, uma farmácia popular, um centro de atendimento à mulher, uma quadra poliesportiva e um espaço de referência da juventude.  No entanto, mesmo bonita, com equipamentos para esporte, mesa de xadrez, e vários órgãos públicos representados, o local está em péssimo estado de conservação.

Alexandre Pimentel, diretor da Biblioteca Parque, que atende diariamente cerca de 300 pessoas, diz que a praça foi se degradando nos últimos meses. 

De fato, quando a equipe do Razão Social esteve na Biblioteca, em junho do ano passado, não havia, no local, traços de destruição.  Os moradores com quem conversamos elogiaram o local, mas havia um ressentimento latente: para eles, faltavam projetos de incentivo para dinamizar a região, como festas e shows ao ar livre.
- O local é bonito e tem muita gente caminhando, mas faltam realmente propostas para tornar este espaço mais útil para a população - disse Pimentel.

Para Jaqueline Peixoto, que trabalha no Centro de Atendimento à Mulher, a praça é realmente subaproveitada, mas ela acredita que, mesmo assim, não haveria motivos para a população destruir o que é público.

- Não há mais lixeiras, o piso está solto, as árvores são quebradas!  Os equipamentos de esporte estão sendo guardados por trás do gradeado de uma das unidades de atendimento.  A população realmente não criou uma relação com este espaço, o que é estarrecedor, pois ele é bonito e útil - contou.

Segundo Jaqueline, seria necessário a prefeitura criar campanhas de valores para conscientizar a população de que o espaço público é de todos e, sendo assim, requer conservação.

Já a paisagista e mestre em urbanismo Cecília Herzog, presidente da ONG Inverde, diz que campanhas são válidas, mas mais importante é envolver a população na criação de projetos que buscam promover transformações locais, como o realizado no Complexo de Manguinhos.  Ela conhece o projeto para a região e chegou a desenvolver, junto com a equipe da Biblioteca Parque, cursos para a população sobre a mudança na paisagem local.

- Este curso foi oferecido depois da inauguração da praça. O certo seria envolver a população ao longo do projeto, oferecendo capacitação para eles entenderem a importância de se transformar a aquela paisagem.  Assim eles poderiam se apropriar aos poucos do espaço e entender porque é útil.  Quando a população é esclarecida e entende que o projeto tem uma funcionalidade para a comunidade, a preservação é possível - observou a paisagista, que faz críticas ao projeto paisagístico da praça.  - Ela não tem funcionalidade socioecológica, pois tem muito cimento que não ajuda a escoar a água e pouca biodiversidade.  - completa.

Segundo a Secretaria Municipal de Conservação e Serviços Públicos, responsável pela manutenção dos equipamentos da praça, uma equipe esteve no local mês passado para a retirada de 14 árvores, que estavam secas, cumprindo uma determinação da Fundação de Parques e Jardins. Elas serão replantadas.  Mas o motivo que levou ao ressecamento das plantas ainda não se sabe. Em nota, a assessoria informa que os mobiliários urbanos da praça danificados, incluindo os brinquedos, foram reparados e que uma nova vistoria estaria marcada para dia 12 de março (ontem).

Fonte: O Globo/Razão Social - p.18

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