"É de extrema relevância
conhecer o direito à saúde da população negra, que já é lei, para que possamos
viver, de fato, em um país que compreenda a sua diversidade e reconheça a importância
do quesito cor como um recorte em suas análises e reflexões", afirmou o
representante da Mobilização Pró Saúde da População Negra, Juliano Gonçalves
Pereira.
A afirmativa foi feita durante o II Seminário Saúde da População Negra
em Debate e Reunião da Juventude Pró-Saúde da População e a Reunião da
Juventude Pró II Encontro Nacional da Juventude Negra (Enjune), realizado
em 9 de novembro na ENSP. O encontro, que reuniu diversos pesquisadores da
área, teve como foco o fortalecimento da temática a partir da problematização
da questão racial.
No final da tarde, com apoio da Rede
Saúde e Cultura, o evento foi encerrado com uma roda de jongo, samba de roda e
ijexá, com a Cia Banto, no hall dos elevadores do quarto andar da escola.
A iniciativa integrou ainda a Mobilização Nacional Pró Saúde da População Negra que ocorre desde 2006, nos meses de outubro e novembro, por meio da realização de ações em todo Brasil. Segundo Juliano Gonçalves, um dos articuladores da ação, pensar em saúde da população negra é “pensar na saúde do país”. “A Mobilização em 2012 tem como slogan ‘Vida longa, com saúde e sem racismo’, tema fundamental para costurarmos as reflexões de que a saúde precisa ser integral para crianças, jovens, adultos (as) e idosos (as), pois quando observamos os dados, vemos que ainda temos muito a fazer para que o direito humano à saúde atinja todos (as), em especial no que tange à população negra”.
Na mesa de abertura estiveram presentes Taís Santos, Representante Auxiliar do UNFPA, Mônica Oliveira, Diretora de Políticas de Ações Afirmativas da Secretaria de Políticas de Promoção a Igualdade Racial (SEPPIR), Valcler Rangel, vice-presidente de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde da Fiocruz, Pablo Dias, coordenador de Ensino da Escola de Governo em Saúde da ENSP/Fiocruz, Juliano Pereira, da Rede Nacional de Controle Social e Saúde da População Negra e Cheila Marina, Coordenação de Vigilância e Prevenção de Violências e Acidentes do Ministério da Saúde.
Na mesa de abertura estiveram presentes Taís Santos, Representante Auxiliar do UNFPA, Mônica Oliveira, Diretora de Políticas de Ações Afirmativas da Secretaria de Políticas de Promoção a Igualdade Racial (SEPPIR), Valcler Rangel, vice-presidente de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde da Fiocruz, Pablo Dias, coordenador de Ensino da Escola de Governo em Saúde da ENSP/Fiocruz, Juliano Pereira, da Rede Nacional de Controle Social e Saúde da População Negra e Cheila Marina, Coordenação de Vigilância e Prevenção de Violências e Acidentes do Ministério da Saúde.
TAÍS SANTOS – A violência que atinge a juventude negra,
principalmente os homens, é um problema social que também se reflete no setor
da saúde. Entretanto, ela observa que não se pode perder de vista que as jovens
negras em “idade produtiva e reprodutiva” também são vítimas do mau atendimento
nos serviços. “Apesar da melhora substancial registrada na última década, a
população negra, especialmente as mulheres negras, ainda apresentam piores
indicadores socioeconômicos, bem como maiores taxas de adoecimento e morte por
causas evitáveis, incluindo a morte materna”. Ao mesmo tempo em que o Brasil
possui hoje a maior população jovem de sua história, o país atravessa acelerada
transição demográfica. “Em 2050, 29% da população brasileira terá 60 anos ou
mais, por isso é tão importante investir na grande população de jovens que temos
atualmente”.
VALCLER RANGEL – Fiocruz: “O racismo é um processo que não
se tem uma vacina. A vacina é muito debate, muito enfrentamento, muita
discussão. Os indicadores mostram muita desigualdade, o processo precisa ainda
passar por busca de evidências para entender quais são as motivações, muitas
vezes classificados como uma questão meramente ideológica. É preciso que
separemos as coisas. Vocês são fundamentais na formulação e execução desse
processo”.
PRIMEIRA MESA - Epidemiologia e pesquisa em saúde da população negra:
aprofundando o debate. Reuniu a
representante da Coordenação Geral de Vigilância e Agravos de Doenças Não
Transmissíveis do Ministério da Saúde, Cheila Marina de Lima; a diretora de
programas da Secretaria de Políticas de Ações Afirmativas da Secretaria de
Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Mônica Oliveira; a pesquisadora do
Departamento de Epidemiologia e Métodos Quantitativos em Saúde da ENSP, Dora
Chor; e, Juliano Moreira, como mediador. “Devemos desenvolver novos meios de
pesquisar e entender a diversidade que explode neste momento em que o país
assume a responsabilidade de pensar a questão racial e a saúde da população
negra. E a mudança de conduta e de olhar é importante para percebermos todas as
nuances que perpassam a vida. Esse é um desafio premente”, disse Juliano na
abertura da mesa.
DORA CHOR - "Por que não usar
raça como recorte?". Não existe consenso nem pensamento único. Mas, em uma
sociedade racial e socialmente construída como é a brasileira, que é única no
mundo, é preciso, sim, levar em consideração o olhar raça e saúde como um dos
indicadores de posição social. “Todos os determinantes são importantes, e raça
deve ser um deles. Infelizmente, vemos de maneira clara que as desigualdades
raciais em saúde não vêm sendo de forma suficiente estudadas na epidemiologia
brasileira.” Ela disse que vivemos em um mundo no qual a onda de um pensamento
conservador tem sido muito avassaladora. Portanto, mais do que nunca, “acredito
que conjugar o universal – saúde para todos –, com o particular – grupos de
estudos e defesa da população negra – é uma preocupação mais que atual”. Ela
falou a respeito de sua linha de pesquisa em determinantes sociais e saúde e
mostrou dados de diversos estudos sobre desigualdades sociais que participa.
CHEILA MARINA DE LIMA -
Em relação ao número de homicídios, os negros são as principais vítimas em todas
as regiões, com exceção da Região Sul. As notificações de violência doméstica,
sexual e outras violências contra a população negra, os dados do módulo
Violências do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Viva Sinan), de
2011, mostram que as mulheres pretas e pardas somam 37% das notificações,
enquanto as brancas representam 41% delas. E a violência física representa 67%
das notificações de violência contra a população negra. Além disso, 66,7% desse
percentual são sofridos pelas mulheres, e a principal faixa etária da população
negra que sofre violência fica entre os 20 e 29 anos. Os homens são os
principais agressores, responsáveis por 64% das notificações de violência
contra a população negra. Entre eles, 70% tinham suspeita do uso de álcool.
MÔNICA OLIVEIRA - Entre as
diretrizes gerais da política estão: a ampliação e fortalecimento da
participação do Movimento Social Negro nas instâncias de controle social das
políticas de saúde; o incentivo à produção do conhecimento científico e
tecnológico em saúde da população negra; a promoção do reconhecimento dos
saberes e práticas populares de saúde, incluindo aqueles preservados pelas
religiões de matrizes africanas; e o desenvolvimento de processos de
informação, comunicação e educação, que desconstruam estigmas e preconceitos,
fortaleçam uma identidade negra positiva. “A saúde, junto com a educação, foi
uma das áreas que mais avançou do ponto de vista de promoção da igualdade
racial no Brasil. Isso, com certeza, é devido à atuação do Movimento Social
Negro. Ele tem capitaneado essa discussão no campo da saúde na última década.”
SEGUNDA MESA - A
violência contra a juventude negra e o racismo institucional, questões
alarmantes para a saúde pública. Participaram: Cheila Marina de
Lima, SVS/MS; Mônica Oliveira, Seppir; Daivison Faustino, representante das
Redes Negras em Saúde; e Gleidson Pantoja, representante do Fórum de Juventude
Negra, como mediador. “Vive-se hoje um extermínio da juventude negra
brasileira. Este é um momento de denúncia, e temos de nos apropriar desses
espaços para que a sociedade brasileira possa ser incomodada em relação aos
jovens negros que estão sendo mortos todos os dias pelo racismo institucional e
pela força do crime organizado, entranhado no país, nas organizações
governamentais”, disse Daivison.
CHEILA MARINA DE LIMA - “Dos 52.260
brasileiros mortos por homicídio em 2010 – 27,3% de óbitos a cada 100 mil
habitantes –, 70,2% eram jovens, negros/pardos. É intolerável para o país
sustentar essa situação contra nossos jovens que morrem de violência,
agressões, homicídios, quedas, acidentes de trânsito etc. Isso significa uma
perda de 2% do Produto Interno Bruto. Ou seja, bilhões de reais que poderiam
estar sendo usados em outras áreas e poderíamos ter nossos jovens”.
MÔNICA OLIVEIRA - "Meu filho é
um jovem negro de classe média. E eu também tenho medo que ele saia e não
volte" diante dos questionamentos sobre a legitimidade? do Plano Juventude
Viva. A diretora de programa destacou ainda que esses/as jovens não podem ser
vistos como pessoas que não aproveitam as oportunidades, pois o "Plano só
existe porque foi colocado como principal prioridade que saiu da Conferência Nacional da
Juventude". E completou: "Essa capacidade política precisa
ser respeitada, o movimento precisa respeitar, o governo precisa respeitar. A
vitimização é uma condição, mas o protagonismo também é", finalizou emocionada.
DAIVISON FAUSTINO - Mais que
simplesmente mostrar dados, ele buscou incitar o público a refletir sobre
determinadas inquietações, questionando como a vulnerabilidade e estigmatização
da situação do jovem negro vira alvo das políticas públicas; o que se pode
esperar do Estado, quanto ao aperfeiçoamento institucional, no que tange também
a profunda discussão e mudança comportamental quanto ao racismo institucional;
e se estamos, enquanto sociedade brasileira, dispostos a ir além do Plano da
Juventude Viva.
MOÇÃO – Proposto pelos participantes do evento para entrega à
presidência da Fiocruz. Solicita o empenho no desenvolvimento e ampliação do
debate em torno da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra (PNSIPN),
para que esta política seja uma das prioridades da nova gestão da Fundação em
2013. O documento pontua formas de como a Fiocruz pode colaborar com o Plano da
Plano Juventude Viva.
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