Por Sandra Martins
Uma bela redação veio da turma do Correio Nagô e da Afropress. Falam da mobilização pelo fim do genocídio de jovens negros que vem se avolumando ao longo dos anos. A Marcha Nacional é um sonho que começou há 35 anos quando se criou o Movimento Negro Unificado Contra a Discriminação Racial, em plena ditadura política.
Uma bela redação veio da turma do Correio Nagô e da Afropress. Falam da mobilização pelo fim do genocídio de jovens negros que vem se avolumando ao longo dos anos. A Marcha Nacional é um sonho que começou há 35 anos quando se criou o Movimento Negro Unificado Contra a Discriminação Racial, em plena ditadura política.
Certamente, esta história é pouco
conhecida pela esquerda brasileira, por ser um tema que naquele período era
tido como algo que dividiria a luta, que era de classe. Mas era na classe baixa
que se encontravam refúgios. Vemos tais relatos em livros que retratavam como
os companheiros de clandestinidade e estudantes, se refugiavam nos morros, nos
espaços da marginalidade urbana. A polícia subia e a negadinha mandava os
"meninos" fugirem. Pois é... Os meninos com o tempo cresceram, ficaram
taludos, homens feitos, e a negadinha continuou na marginalidade. Morrendo com
o justiçamento dos Mãos Brancas... lembram?!?
Da escola integral conforme o ideário que
poderia ter vários problemas, certamente, os tinha, mas que poderiam ser
realinhados ou readequados, para que a massa marginalizada nas escolas baratas
de quinta categoria pudesse um dia ter a qualidade e amorosidade suficiente
para que se tornassem valorosos e valorosas cidadãs. Mas, esta página foi
virada, os sonhos jogados fora, as lágrimas vertem desde sempre. Como
vertem a todo corpo negro que tomba no dia-a-dia deste Brasil de poucos.
Lelia Gonzalez |
Em 1978, dois casos foram emblemáticos
para que ativistas dos direitos humanos se unissem para denunciar a pseuda
democracia racial que mata e discrimina negros e que determinou que somente um
grupo étnico-racial poderia ser o merecedor das benesses produzidas por todos.
Robson Silveira da Luz, feirante de 27 anos, negro, acusado de roubar frutas
foi torturado e morto por policiais militares no 44º Departamento de Polícia de
Guaianazes, SP. Pouco tempo depois, quatro jovens atletas de vôlei foram
impedidos de entrar no hoje extinto Clube de Regatas Tietê.
Matéria da Revista Raça (única revista de banca que aparecem negros
e negras) "35 anos em marcha contra a discriminação racial", ela informa que no lugar do clube, hoje existe a Faculdade Zumbi dos Palmares, a
também a única e primeira universidade negra do país (se acalmem, lá tem espaço
para todos e todas, nipônicos, loiros, indígenas, etc.).
Wilson Prudente |
Celso Prudente |
Em 7 de julho, após vários debates entre
ativistas do movimento negro, surgiu o nome que simbolizaria o sonho de união
entre os negros (atualmente pretos + pardos do IBGE). Esta data simboliza o Dia
Nacional de Luta Contra o Racismo, e neste dia, mais de 3 mil pessoas foram
paulatinamente se encontrar em frente ao Theatro Municipal de São Paulo.
Imaginem a cara das pessoas, das
autoridades, da burguesia, dos estudantes não negros, da esquerda, de todos,
vendo aqueles 3 mil negros falando com propriedade de suas dores, de suas
angústias, de como esta parcela da população brasileira era tratada pelos seus
irmãos e conterrâneos. Chocante!!! Lindo, diria eu... Não estava lá, mas
imagino, pois conheci ao longo da militância, muitas daquelas pessoas que
estiveram lá - Lélia Gonzalez, Abdias Nascimento, Hélio Santos, os irmãos Celso e Wilson Prudente, entre outros. Muitas delas foram perseguidas, se suicidaram, tiveram que entrar
na clandestinidade - não a da época - mas sumir no meio do nada, antes que
sumissem com os seus.
Solano Trindade |
Hermógenes Almeida Silva |
Solano Trindade foi um que teve seu filho
assassinado para que se calasse. Hermógenes Almeida Silva Filho,
assassinado junto com Reinaldo Guedes Miranda em junho de 1994. Na ocasião,
disseram que era um crime passional. Será? Ou porque estes ativistas
investigavam as chacinas da Candelária e de Vigário Geral, como parte
do trabalho de Hermógenes na assessoria parlamentar - ocupou o cargo de assessor
da então vereadora Benedita da Silva (PT), eleita em 1982 e de Jurema
Batista (PT), eleita em 1992. Mortos a tiros, no bairro carioca da
Piedade, apesar da repercussão nacional e internacional, não se chegaram aos
réus.
São os Amarildos de sempre: as cores são
as mesmas, a impunidade semelhante, o racismo idêntico.
Mas vamos ao texto primoroso da turma do
Correio Nagô e da Afropress nos próximos posts, incluindo o Manifesto: Marcha Contra o Genocídio do Povo Negro.
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