domingo, 21 de julho de 2013

Caça às bruxas não para, recado dado: sequestro-relâmpago de sociólogo no Rio

Matéria da Agência Estado traz um relato absurdo, mas infelizmente não raro para quem trabalha com violação dos Direitos Humanos. Trata-se do sequestro-relâmpago do sociólogo Paulo Baía, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e ex-secretário de Estado de Direitos Humanos, na manhã da última sexta-feira, 19 de julho. Baía foi posto num carro e obrigado a circular pelas ruas do Centro, com quatro homens armados e encapuzados. Ele, que estuda os protestos que eclodiram no País, afirma que foi ameaçado por dar entrevistas a respeito da atuação da Polícia Militar (PM). Ele concedera entrevista ao Jornal O Globo sobre o quebra-quebra no Leblon.
"A polícia viu o crime acontecendo e não agiu. O recado da polícia foi o seguinte: agora, eu vou dar porrada em todo mundo", afirmou ao jornal carioca. O caso foi denunciado à Ouvidoria do Ministério Público (MP) e à chefia de Polícia Civil.
De acordo com o procurador-geral de Justiça, Marfan Vieira, o episódio é "extremamente preocupante", por considerar que há uma clara tentativa de calar uma voz importante no cenário político nacional, o que fere o Estado Democrático de Direito e causa enorme preocupação.
 
Baía caminhava por volta das 7h30 no Aterro do Flamengo, na Zona Sul, quando foi abordado por dois homens armados, com os rostos escondidos por toucas ninjas e óculos escuros, e as cabeças cobertas por capuzes de moletom. Logo em seguida, um Nissan preto, sem placa, estacionou ao lado deles. O sociólogo foi obrigado a entrar.
"Não dê mais nenhuma entrevista, não cite a Polícia Militar de forma alguma, senão será a última entrevista que o senhor dará." Baía circulou pelo Aterro, passou pela Avenida Rio Branco e foi deixado em frente à Biblioteca Nacional - um trajeto de 10 minutos. "O recado está dado", disse um dos homens ao liberar Baía.
Dizendo-se sob tensão, mas não amedrontado, Paulo Baía afirmou que no seu entendimento, o que houve foi um "atentado a minha pessoa, mas também à liberdade de imprensa. O motivador foi a matéria publicada hoje (19)." Ele contou que foi a primeira ameaça que sofreu e que pretende mudar a rotina.
 
"Estou impactado, um pouco traumatizado. Esta é uma posição nova para mim - a de vítima. Já vim a essa casa (MP) muitas vezes, trazendo vítimas. Já trabalhei em casos complicados, até mesmo com o crime organizado, mas nunca passei por isso", disse o professor, que também se encontrou com a chefe de Polícia Civil, Martha Rocha, e registrou o caso na 5.ª DP.
Paulo Baía vem estudando há cinco anos a demanda da população por reconhecimento, respeito e novos direitos. Ele tem participado das manifestações e mapeou os grupos que participam dos atos, identificando, inclusive, aqueles que fazem depredações e saques. "É um grupo que comete crime, não vandalismo. Vandalismo é um termo impreciso, incorreto e que desqualifica a manifestação. Esses que fazem saques são criminosos. E fico muito surpreso de a polícia assistir aos crimes e não agir", afirmou o sociólogo.

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