domingo, 21 de julho de 2013

AfroReggae e Jornal A Voz da Comunidade saem do Alemão

No último sábado, 20 de julho, José Junior, coordenador da ONG AfroReggae, e René Junior, fundador do jornal “A Voz da Comunidade”, decidiram sair da Favela da Grota, no Conjunto de Favelas do Alemão, após incêndio criminoso. O incêndio aconteceu na última terça-feira, 16, por volta das 4h30. Os bombeiros chegaram minutos depois, mas as chamas já haviam consumido todo o estabelecimento.

Para José Junior, o incêndio foi criminoso e acusa como autor da ordem o pastor Marcos Pereira, da Assembleia de Deus dos Últimos Dias, preso desde o início de maio sob a acusação de estupro de fiéis. “Se o narcotráfico fosse uma empresa, ele seria o presidente do Conselho. Desde que comecei a denunciá-lo, em 2012, estou sendo jurado de morte”.

Junior postara no Twitter imagens dos bombeiros fazendo o rescaldo no espaço que sofreu reformas recentes. Ele informara que recebera mensagens de testemunhas, por volta de 1h da terça-feira, alertando que houvera invasão no imóvel, mas Junior só vira o aviso no início da manhã quando tomou conhecimento do incêndio.

A decisão de sair da favela, segundo Júnior foi por temer pela integridade física das 350 atendidas pela ONG e para se manter fiel a filosofia da organização, criada para mediar conflitos. Ele disse ter recebido aviso de um líder comunitário de que deveriam sair da favela, caso contrário, o tráfico jogaria uma bomba no projeto.

“Atearam fogo na nossa redação, mas não apagaram nossa vontade de fazer diferença, na vida da comunidade, na vida das pessoas, nas nossas vidas. A Voz da Comunidade nasceu de um sonho que vem se tornando realidade nos últimos anos pelo esforço de gente que gosta, que quer e que vem realizar junto conosco a cada dia um jornal melhor, eventos maiores, transformando o Complexo do Alemão em uma comunidade mais feliz e de gente com perspectiva, de olho em um futuro melhor.”

Com esta chamada divulgada no Facebook, demonstra que não vai desistir e pede ajuda para reerguer o jornal fundado em 2005. Contatos rene@vozdascomunidades.com.br 

Caça às bruxas não para, recado dado: sequestro-relâmpago de sociólogo no Rio

Matéria da Agência Estado traz um relato absurdo, mas infelizmente não raro para quem trabalha com violação dos Direitos Humanos. Trata-se do sequestro-relâmpago do sociólogo Paulo Baía, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e ex-secretário de Estado de Direitos Humanos, na manhã da última sexta-feira, 19 de julho. Baía foi posto num carro e obrigado a circular pelas ruas do Centro, com quatro homens armados e encapuzados. Ele, que estuda os protestos que eclodiram no País, afirma que foi ameaçado por dar entrevistas a respeito da atuação da Polícia Militar (PM). Ele concedera entrevista ao Jornal O Globo sobre o quebra-quebra no Leblon.
"A polícia viu o crime acontecendo e não agiu. O recado da polícia foi o seguinte: agora, eu vou dar porrada em todo mundo", afirmou ao jornal carioca. O caso foi denunciado à Ouvidoria do Ministério Público (MP) e à chefia de Polícia Civil.
De acordo com o procurador-geral de Justiça, Marfan Vieira, o episódio é "extremamente preocupante", por considerar que há uma clara tentativa de calar uma voz importante no cenário político nacional, o que fere o Estado Democrático de Direito e causa enorme preocupação.
 
Baía caminhava por volta das 7h30 no Aterro do Flamengo, na Zona Sul, quando foi abordado por dois homens armados, com os rostos escondidos por toucas ninjas e óculos escuros, e as cabeças cobertas por capuzes de moletom. Logo em seguida, um Nissan preto, sem placa, estacionou ao lado deles. O sociólogo foi obrigado a entrar.
"Não dê mais nenhuma entrevista, não cite a Polícia Militar de forma alguma, senão será a última entrevista que o senhor dará." Baía circulou pelo Aterro, passou pela Avenida Rio Branco e foi deixado em frente à Biblioteca Nacional - um trajeto de 10 minutos. "O recado está dado", disse um dos homens ao liberar Baía.
Dizendo-se sob tensão, mas não amedrontado, Paulo Baía afirmou que no seu entendimento, o que houve foi um "atentado a minha pessoa, mas também à liberdade de imprensa. O motivador foi a matéria publicada hoje (19)." Ele contou que foi a primeira ameaça que sofreu e que pretende mudar a rotina.
 
"Estou impactado, um pouco traumatizado. Esta é uma posição nova para mim - a de vítima. Já vim a essa casa (MP) muitas vezes, trazendo vítimas. Já trabalhei em casos complicados, até mesmo com o crime organizado, mas nunca passei por isso", disse o professor, que também se encontrou com a chefe de Polícia Civil, Martha Rocha, e registrou o caso na 5.ª DP.
Paulo Baía vem estudando há cinco anos a demanda da população por reconhecimento, respeito e novos direitos. Ele tem participado das manifestações e mapeou os grupos que participam dos atos, identificando, inclusive, aqueles que fazem depredações e saques. "É um grupo que comete crime, não vandalismo. Vandalismo é um termo impreciso, incorreto e que desqualifica a manifestação. Esses que fazem saques são criminosos. E fico muito surpreso de a polícia assistir aos crimes e não agir", afirmou o sociólogo.