terça-feira, 23 de julho de 2013

Morador fala da emoção com a marca visita do Papa Francisco à Varginha

Um momento histórico e ímpar para a comunidade da Varginha, uma das localidades do bairro de Manguinhos, na Zona da Leopoldina: a visita do Papa Francisco, na manhã desta quinta-feira, 25 de julho. Esta é a primeira viagem ao Brasil do primeiro Papa sul-americano da história do Vaticano. Se a vinda de milhares de peregrinos que estão chegando ao país mudaram a rotina do Rio de Janeiro, o que dirá para os que moram em Manguinhos e, em especial, os moradores de Varginha... ineditismo total... Graciara  da Silva, criada em Varginha, fez uma matéria falando um pouco dos sentimentos dos amigos, das vizinhas, enfim, de quem mora nesta localidade que receberá o Sumo Pontífice e um Chefe de Nação.


A entrada da Comunidade de Varginha fica em
 frente à Estação Ferroviária de Manguinhos
Toda a comunidade está bastante eufórica e ansiosa por esse momento. Está sendo bem diferente de um tempo anterior [Manguinhos foi ocupada pelas forças de segurança pública em outubro; Atualmente foi instalada uma UPP que atende também o Arará. As tensões e poluição ambiental convivem no mesmo espaço.]. Alguns moradores abrem as suas casas para receber peregrinos oriundos de vários países e também de outros estados do Brasil.

José da Costa de Oliveira morador da comunidade há 38 anos, tem 5 filhos e 3 netas. Trabalha carpinteiro e hoje, como ele mesmo gosta de falar, “é somente um fiel na Igreja; um braço forte; que ajuda no que for preciso”. Ele se voluntariou para receber a imprensa do Brasil e do todo mundo. Tudo com o consentimento do Padre Marcio Queiroz, que é responsável pela Capela Nossa Senhora de Bonsucesso – a falada Capela São Jerônimo Emiliani, muito simples. Atencioso Zé da Costa, como é chamado, conta com bastante emoção da expectativa da vinda do Papa Francisco à Capela. “Estou fazendo com muita alegria a divulgação não somente da minha Igreja mas, também, da minha comunidade, onde muitos amigos meus vão receber em suas casas os peregrinos. Eles terão uma oportunidade única de conhecer os bastidores da Varginha”, disse orgulhoso por estar participando tão ativamente deste momento histórico para o país e para sua vida.

Domingos com Zé da Costa em frente ao altar em
que o Sumo Pontífice rezará uma missa.
Suas expectativas são várias, disse esperançoso. Segundo ele, todas as famílias de Manguinhos foram e serão abençoadas. “Receberei vários familiares que vieram de longe e compartilharão da minha alegria. Este momento é muito especial. Está acontecendo tudo muito rápido. Levando momentos de conhecimento, divulgando a Capela, a minha comunidade e o mundo todo.”

Zé da Costa afirma que a parceria com outras denominações tem sido fundamental. “A união com o Eliel da Silva, morador e pastor da Igreja Assembleia de Deus; a Rosa, de Saron, na comunidade da Varginha, que está em frente ao Campo Rio Petrópolis, ela estará de portas abertas para que as pessoas possam usar o banheiro e beber uma água. Essa comunicação com outras religiões é muito importante pra Manguinhos, que se reconhece esse momento de paz, união e solidariedade. Vejo tudo isso como uma missão que Deus me deu, de estar facilitando a comunicação e o acesso a minha comunidade. E, mostrando que aqui também tem muita unidade e muitas famílias de bem,” disse feliz por esta passagem do Papa.

Para Zé da Costa, o Papa Francisco deixará um legado, um legado maravilhoso a ser cuidado com muita fé e responsabilidade: um legado de Paz, Companheirismo e Solidariedade para Manguinhos, que ainda passa por muitos momentos de carências.

Carta de Wagner dos Santos, único sobreviven​te vivo da Chacina da Candelária

O pessoal da Rede de Comunidades e Movimentos contra a Violência recebeu carta de Wagner dos Santos, único sobrevivente da Chacina da Candelária, enviada à sua irmão, Patrícia de Oliveira, para ser divulgada.
 
É um pedido às autoridades brasileiras para que pensem sobre a repetição de atos de violência policial no país, mesmo após 20 anos da Chacina que o obrigou a ir embora do Rio de Janeiro.
 
A carta:
 
Prezados Governantes do Brasil,
 
 Para mim, vinte anos passados da Chacina da Candelária, pouca coisa mudou.  Na noite do dia 23 de julho 1993, quando eu estava na Rua Dom Geraldo caminhado para comprar cigarro, passou um carro por mim eu continuei andando. Olhei para trás e pude ver dois garotos vindo. Foi ai que percebei que o tal carro estava voltando. Logo em seguida fui abordado e colocado no carro. Dentro do automóvel, começou uma discussão entre as pessoas que estavam lá e uma delas estava com uma arma apontada para minha cabeça. Foi quando senti uma coisa entrando na minha cabeça. Acabei perdendo a consciência, voltando a acordar apenas nas proximidades do Museu de Arte Moderna.
 
Ai, como todos já sabem, começaria o meu martírio, ficando no hospital sendo desrespeitado por todos e recebendo ameaças de todos os tipos, levando-me ao ponto de deixar uma carta de despedida para todos que estavam me ajudando e cortar os meus pulsos. Passado este tempo, considero que, para mim, Wagner, naquele momento o governo do Brasil tinha a oportunidade de fazer uma mudança profunda, mas não quis e preferiu continuar e deixar tudo do mesmo jeito.
 
Fui discriminado até no julgamento, porque as autoridades não respeitavam a palavra de um morador de rua, pois assim eu era considerado. Não tive sequer direito à indenização do estado e fui obrigado a deixar o país, pois este não tinha condição de me manter vivo. Até hoje aguarda pela cirurgia reparadora facial.  São vinte anos de falta de respeito dos governantes, de falta de políticas públicas para os jovens pobres e negros. Não se investe nas crianças.  Mais fácil matar do que cuidar. Eu fico acompanhando as noticias do Brasil e vejo que o país ainda esta longe de ser um país  voltado para a população mais pobre. Ao contrário, direciona suas ações para privilegiar a população de condição financeira alta.
 
Agora, com as manifestações, os governantes estão sendo obrigados a dar uma resposta para a população que esta cheia da corrupção e da forma como o Estado lhes trata. Falta de dinheiro para saúde, falta um salário melhor para os professores. Os governantes ainda inovam com o chamado recolhimento compulsório levando as pessoas para aqueles lugares que não têm condições algum para receber seres humanos que precisam de ajuda, justamente porque eles não perguntam o que as pessoas querem, vindo sempre com a coisa pronta. Em outros países,  os governantes escutam a população.
 
Tenho visto que nos últimos anos tem aparecido pessoas se dizendo sobreviventes, mas que nunca apareceram ao longo deste período em todo o processo. Mas, afirmo que só quem tem autorização para falar em meu nome é minha família, especialmente a minha irmã, Patrícia de Oliveira.
 
Eu não acredito em mudanças no Brasil.  Gostaria muito, mas voltar ao meu país  é algo que vai demorar muito, se é que isso vai ser possível algum dia. Infelizmente, sou mais respeitado fora dele.
 
Espero, sinceramente, que os governantes brasileiros acabem com as chacinas que até hoje ocorrem, seja com moradores de rua, seja nas comunidades país afora. Se isso não acontecer, será muito difícil continuar dizendo que o Brasil é uma democracia.
 
Wagner dos Santos,
 
Genebra, 22 de julho de 2013         

Informes sobre Audiência Pública sobre DH na OAB/ RJ

Audiência Pública ocorrida ontem (19), na OAB-RJ, reuniu membros de diversos setores da sociedade civil, advogados da Ordem, o MPF, a ABI, órgãos dos Direitos Humanos e representantes da Segurança Pública - a Superintendente da Secretaria de Segurança Pública do Estado - Luciane Patrício e o coronel Robson Rodrigues da Silva, chefe do Estado-Maior Administrativo da Polícia Militar (PM) do Rio de Janeiro.

O tom dado pelas falas dos advogados, dos representantes dos Direitos Humanos e da sociedade em geral foi da ação truculenta da PMERJ nas manifestações. Mas não só nelas. Foi lembrado, a partir do caso recente dos mortos na Maré, que a polícia mata há muito tempo e que não deve haver uma separação entre polícia de asfalto e de morro, pois a polícia é uma só. Houve uma preocupação geral da atuação da polícia, que envolve principalmente: sua razão de existir, seu papel social, seus excessos e arbitrariedades e a forma como tem sido gerida e seu futuro.

O policiamento cidadão foi citado por ambos os representantes da segurança do Estado, sem no entanto apresentar soluções nesse sentido. Vale lembrar que o modelo de polícia ostensiva e repressora já é posto em cheque há pelo menos 30 anos. A exemplo da tentativa de aplicação de uma polícia cidadã pelo Cel Nazareth Cerqueira nos anos de 1980/90, quando ocupou o cargo de secretário de Estado da Polícia Militar e comandante-geral da corporação. Esse não é um debate novo.

O coronel Robson, após pedir desculpas, reconheceu que o protocolo usado atualmente está "completamente inadequado" e disse estar ciente dos excessos policiais. Qualificou as manifestações como um "movimento bonito" e apontou que há investigações em andamento. Afirmou, inclusive, que já houve prisões de policiais. Só não disse quantos e nem tocou num ponto importante: o que será daqui pra frente, já que as declarações recentes do comando geral (seu superior hierárquico) foi de endurecimento da ação policial?

Que tal perguntarmos pra eles?

lucianepatricio.cseg@gmail.com - Luciane Patrício
emg.adm.pmerj@gmail.com - Cel Robson Rodrigues

Encaminhamentos que foram tirados (às pressas) na audiência:

- criação de grupo de trabalho, formado por membros da sociedade (não definido), membros da secretaria de segurança e judiciário para trabalhar em conjunto na avaliação da atual PM e na criação de um novo protocolo para a ação policial. O Observatório de Favelas levou um protocolo elaborado por eles como pontapé inicial.

- criação de grupo para avaliar as denúncias, com presença da sociedade, OAB e polícia, e pensar em soluções para a segurança pública do E

Revista Saúde em Debate pauta Saúde da População Negra e dos LGBTs

A saúde da população negra e dos gays, lésbicas e transsexuais será um dos assuntos das próximas duas edições da revista Saúde em Debate, publicação do Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes). Os interessados em contribuir com artigos já podem encaminhá-los à comissão editorial do periódico. 

Serão aceitos textos tanto de caráter acadêmico como produções autônomas de comunidades e/ou associações e entidades, seja na forma de artigos originais,resenhas de livros e/ou depoimentos. As contribuições podem ser escritas em português, espanhol e inglês e devem ser submetidas para avaliação exclusivamente pelo http://www.saudeemdebate.org.br . 

Os interessados em conferir os padrões solicitados para envio podem acessar as instruções neste http://186.202.154.32/noticias/noticia_int.php?id_noticia=1317