O livro Liberdade, um problema do nosso tempo: os sentidos
de liberdade para os jovens no contemporâneo, da professora Amana Mattos, tem
como questão central os sentidos que a palavra liberdade assume no mundo
contemporâneo, em especial para os jovens. Em uma sociedade marcada pelo
capitalismo e pelas relações individualizadas, “ser livre” é algo almejado por
todos. Entretanto, essa experiência é marcada, inevitavelmente, por conflitos e
perturbações, que surgem na relação com o outro no exercício da liberdade. A discussão
teórica e com os jovens participantes da pesquisa sobre os possíveis entendimentos
para a palavra liberdade, e sobre os embates gerados no seu exercício
constituem o eixo do livro.
Iniciando com uma revisão crítica do conceito de liberdade
no pensamento liberal, a autora mostra como a ideia de que o sujeito possa “ser
livre para fazer/ser o que quiser” é amplamente difundida em nossa sociedade,
levando à crença de que a liberdade é um direito individual, a ser vivido e
desfrutado na esfera privada. Essa ideia, que atravessa as obras dos principais
pensadores da teoria liberal, não problematiza a relação conflituosa com o
outro, além de afastar o problema da liberdade das questões coletivas e
públicas, despolitizando seu exercício.
Em seu trabalho de campo, a autora discute como jovens de
diferentes classes sociais experimentam e significam a liberdade em suas vidas.
Nas oficinas realizadas, a liberdade funcionou como um mote para os jovens falarem
daquilo que não compreendem, daquilo que os angustia. A questão do que
significa a liberdade levou os jovens a falarem sobre as dificuldades que
encontram no convívio com outras pessoas – sejam familiares, amigos, conhecidos
ou estranhos. Foi presente nas discussões o entendimento da liberdade como
atributo e direito individuais, o que dificulta que o outro seja visto como
alguém que também é livre. Mas os jovens também ressaltaram a importância das
relações com os demais para que suas vidas tenham sentido, para que o próprio
exercício da liberdade não seja algo vazio.
Para a autora, professora do Instituto de Psicologia da UERJ,
uma consequência considerável da problematização da liberdade é que a
psicologia pode ganhar um papel privilegiado na discussão da liberdade quando
esta é remetida à relação com o outro e pensada sob a perspectiva do conflito.
Para tanto, é necessário que a psicologia se coloque como um campo de saber que
pode contribuir para o entendimento das relações entre pessoas, e entre
instituições e pessoas, com toda a dimensão conflituosa e com as situações de
opressão e de injustiça que constituem essas relações. Assim, é imprescindível
pensar a liberdade para além do silenciamento das relações intersubjetivas e da
normatização de sua experiência, como produtora de ruídos, de mal-estar e de
estranhamento.
O livro, lançado em dezembro de 2012, foi publicado pela
Editora FGV, com recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio de Janeiro,
Faperj.
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