sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Liberdade, um problema do nosso tempo


O livro Liberdade, um problema do nosso tempo: os sentidos de liberdade para os jovens no contemporâneo, da professora Amana Mattos, tem como questão central os sentidos que a palavra liberdade assume no mundo contemporâneo, em especial para os jovens. Em uma sociedade marcada pelo capitalismo e pelas relações individualizadas, “ser livre” é algo almejado por todos. Entretanto, essa experiência é marcada, inevitavelmente, por conflitos e perturbações, que surgem na relação com o outro no exercício da liberdade. A discussão teórica e com os jovens participantes da pesquisa sobre os possíveis entendimentos para a palavra liberdade, e sobre os embates gerados no seu exercício constituem o eixo do livro.

Iniciando com uma revisão crítica do conceito de liberdade no pensamento liberal, a autora mostra como a ideia de que o sujeito possa “ser livre para fazer/ser o que quiser” é amplamente difundida em nossa sociedade, levando à crença de que a liberdade é um direito individual, a ser vivido e desfrutado na esfera privada. Essa ideia, que atravessa as obras dos principais pensadores da teoria liberal, não problematiza a relação conflituosa com o outro, além de afastar o problema da liberdade das questões coletivas e públicas, despolitizando seu exercício.

Em seu trabalho de campo, a autora discute como jovens de diferentes classes sociais experimentam e significam a liberdade em suas vidas. Nas oficinas realizadas, a liberdade funcionou como um mote para os jovens falarem daquilo que não compreendem, daquilo que os angustia. A questão do que significa a liberdade levou os jovens a falarem sobre as dificuldades que encontram no convívio com outras pessoas – sejam familiares, amigos, conhecidos ou estranhos. Foi presente nas discussões o entendimento da liberdade como atributo e direito individuais, o que dificulta que o outro seja visto como alguém que também é livre. Mas os jovens também ressaltaram a importância das relações com os demais para que suas vidas tenham sentido, para que o próprio exercício da liberdade não seja algo vazio.

Para a autora, professora do Instituto de Psicologia da UERJ, uma consequência considerável da problematização da liberdade é que a psicologia pode ganhar um papel privilegiado na discussão da liberdade quando esta é remetida à relação com o outro e pensada sob a perspectiva do conflito. Para tanto, é necessário que a psicologia se coloque como um campo de saber que pode contribuir para o entendimento das relações entre pessoas, e entre instituições e pessoas, com toda a dimensão conflituosa e com as situações de opressão e de injustiça que constituem essas relações. Assim, é imprescindível pensar a liberdade para além do silenciamento das relações intersubjetivas e da normatização de sua experiência, como produtora de ruídos, de mal-estar e de estranhamento.

O livro, lançado em dezembro de 2012, foi publicado pela Editora FGV, com recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio de Janeiro, Faperj.

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