quinta-feira, 18 de julho de 2013

Quantos Jacksons ou Joões, jovens negros brasilieiros, têm de morrer ?

Por Sandra Martins

Os homicídios são, atualmente, a principal causa de morte de jovens brasileiros com idades entre 15 a 29 anos, e atingem especialmente jovens negros do sexo masculino, moradores das periferias e áreas metropolitanas dos centros urbanos. Os dados do Ministério da Saúde revelam uma cruel realidade: em 2010, mais da metade (53,3%) dos 49.932 mortos por homicídios eram jovens, dos quais 76,6% negros (pretos e pardos) e 91,3% do sexo masculino.
 Indianara Siqueira, da Marcha das Vadias, coordenou
o GD Conservadorismo religioso e políticas públicas
(estatuto do nascituro, comunidades terapêuticas,
homofobia etc), no ENPOP.

Os dados são duros para com os jovens, mas também para com suas famílias, muitas delas, acuadas pelo medo da morte iminente na busca por justiça. Como ocorreu com o caso do assassinato de Jackson Antônio Souza de Carvalho, 15 anos, nascido em Ilhéus e morto em Itacaré, Sul da Bahia. Ele foi executado, dia 26 de junho, com tiros de espingarda calibre 12 e enterrado de cabeça para baixo, num cemitério clandestino – ponto de desova de grupos de extermínio daquela região, que segundo ativistas locais, neste local já morreram mais de 20 jovens.
Hamilton Borges, Reaja ou Será Morto, Reaja ou Será Morta,
sentado ao lado de Débora Maria da Silva, Mães de Maio

Jackson e sua família entraram para as estatísticas de violência contra jovens negros e ameaça aos familiares que exigem justiça, o combate às violações dos direitos humanos e a impunidade. Um dia após encontrarem o corpo do menor, seus familiares – num total de 11 membros, entre idosos, adultos, jovens e crianças – deixaram sua cidade natal, Itacaré, escoltadas pela polícia, após uma noite de pânico em que cinco homens fortemente armados ameaçaram aos gritos atirar nas casas vizinhas a casa onde rapaz morava com os pais. Seu pai, Tonny é ativista do movimento negro com forte atuação no município. Em função das ameaças, uma rede de proteção acolheu a família, que em pouco menos de um mês teve que se mudar pelo menos três vezes.


Esta rede de proteção foi construída com a parceria da Casa do Boneco com a Campanha Reaja ou Será Morto, Reaja ou Será Morta. Este e outros casos que entraram nas estatísticas de violência letal contra jovens negros foi tema debatido no ENPOP - Encontro Popular Sobre Segurança Pública e Direitos Humanos que aconteceu entre no último final de semana, 12 a 14, no Rio Comprido. O evento teve como objetivo articular movimentos sociais, organizações de direitos humanos e moradores de regiões impactadas por intervenções militares ou por grandes reformas urbanas. 

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