quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Mobilização em prol da vida dos jovens negros no Brasil

Por Sandra Martins

Uma bela redação veio da turma do Correio Nagô e da Afropress. Falam da mobilização pelo fim do genocídio de jovens negros que vem se avolumando ao longo dos anos. A Marcha Nacional é um sonho que começou há 35 anos quando se criou o Movimento Negro Unificado Contra a Discriminação Racial, em plena ditadura política. 

Certamente, esta história é pouco conhecida pela esquerda brasileira, por ser um tema que naquele período era tido como algo que dividiria a luta, que era de classe. Mas era na classe baixa que se encontravam refúgios. Vemos tais relatos em livros que retratavam como os companheiros de clandestinidade e estudantes, se refugiavam nos morros, nos espaços da marginalidade urbana. A polícia subia e a negadinha mandava os "meninos" fugirem. Pois é... Os meninos com o tempo cresceram, ficaram taludos, homens feitos, e a negadinha continuou na marginalidade. Morrendo com o justiçamento dos Mãos Brancas... lembram?!?

Da escola integral conforme o ideário que poderia ter vários problemas, certamente, os tinha, mas que poderiam ser realinhados ou readequados, para que a massa marginalizada nas escolas baratas de quinta categoria pudesse um dia ter a qualidade e amorosidade suficiente para que se tornassem valorosos e valorosas cidadãs. Mas, esta página foi virada, os sonhos jogados fora, as lágrimas vertem desde sempre. Como vertem a todo corpo negro que tomba no dia-a-dia deste Brasil de poucos.

Lelia Gonzalez
Em 1978, dois casos foram emblemáticos para que ativistas dos direitos humanos se unissem para denunciar a pseuda democracia racial que mata e discrimina negros e que determinou que somente um grupo étnico-racial poderia ser o merecedor das benesses produzidas por todos. Robson Silveira da Luz, feirante de 27 anos, negro, acusado de roubar frutas foi torturado e morto por policiais militares no 44º Departamento de Polícia de Guaianazes, SP. Pouco tempo depois, quatro jovens atletas de vôlei foram impedidos de entrar no hoje extinto Clube de Regatas Tietê. 

Matéria da Revista Raça (única revista de banca que aparecem negros e negras) "35 anos em marcha contra a discriminação racial", ela informa que no lugar do clube, hoje existe a Faculdade Zumbi dos Palmares, a também a única e primeira universidade negra do país (se acalmem, lá tem espaço para todos e todas, nipônicos, loiros, indígenas, etc.).

Wilson Prudente
Celso Prudente
Em 7 de julho, após vários debates entre ativistas do movimento negro, surgiu o nome que simbolizaria o sonho de união entre os negros (atualmente pretos + pardos do IBGE). Esta data simboliza o Dia Nacional de Luta Contra o Racismo, e neste dia, mais de 3 mil pessoas foram paulatinamente se encontrar em frente ao Theatro Municipal de São Paulo.

Imaginem a cara das pessoas, das autoridades, da burguesia, dos estudantes não negros, da esquerda, de todos, vendo aqueles 3 mil negros falando com propriedade de suas dores, de suas angústias, de como esta parcela da população brasileira era tratada pelos seus irmãos e conterrâneos. Chocante!!! Lindo, diria eu... Não estava lá, mas imagino, pois conheci ao longo da militância, muitas daquelas pessoas que estiveram lá - Lélia Gonzalez, Abdias Nascimento, Hélio Santos, os irmãos Celso e Wilson Prudente, entre outros. Muitas delas foram perseguidas, se suicidaram, tiveram que entrar na clandestinidade - não a da época - mas sumir no meio do nada, antes que sumissem com os seus.
Solano Trindade

Hermógenes Almeida Silva
Solano Trindade foi um que teve seu filho assassinado para que se calasse. Hermógenes Almeida Silva Filho, assassinado junto com Reinaldo Guedes Miranda em junho de 1994. Na ocasião, disseram que era um crime passional. Será? Ou porque estes ativistas investigavam as chacinas da Candelária e de Vigário Geral, como parte do trabalho de Hermógenes na assessoria parlamentar - ocupou o cargo de assessor da então vereadora Benedita da Silva (PT), eleita em 1982 e de Jurema Batista (PT), eleita em 1992. Mortos a tiros, no bairro carioca da Piedade, apesar da repercussão nacional e internacional, não se chegaram aos réus.

São os Amarildos de sempre: as cores são as mesmas, a impunidade semelhante, o racismo idêntico.

Mas vamos ao texto primoroso da turma do Correio Nagô e da Afropress nos próximos posts, incluindo o Manifesto: Marcha Contra o Genocídio do Povo Negro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário