domingo, 21 de julho de 2013

AfroReggae e Jornal A Voz da Comunidade saem do Alemão

No último sábado, 20 de julho, José Junior, coordenador da ONG AfroReggae, e René Junior, fundador do jornal “A Voz da Comunidade”, decidiram sair da Favela da Grota, no Conjunto de Favelas do Alemão, após incêndio criminoso. O incêndio aconteceu na última terça-feira, 16, por volta das 4h30. Os bombeiros chegaram minutos depois, mas as chamas já haviam consumido todo o estabelecimento.

Para José Junior, o incêndio foi criminoso e acusa como autor da ordem o pastor Marcos Pereira, da Assembleia de Deus dos Últimos Dias, preso desde o início de maio sob a acusação de estupro de fiéis. “Se o narcotráfico fosse uma empresa, ele seria o presidente do Conselho. Desde que comecei a denunciá-lo, em 2012, estou sendo jurado de morte”.

Junior postara no Twitter imagens dos bombeiros fazendo o rescaldo no espaço que sofreu reformas recentes. Ele informara que recebera mensagens de testemunhas, por volta de 1h da terça-feira, alertando que houvera invasão no imóvel, mas Junior só vira o aviso no início da manhã quando tomou conhecimento do incêndio.

A decisão de sair da favela, segundo Júnior foi por temer pela integridade física das 350 atendidas pela ONG e para se manter fiel a filosofia da organização, criada para mediar conflitos. Ele disse ter recebido aviso de um líder comunitário de que deveriam sair da favela, caso contrário, o tráfico jogaria uma bomba no projeto.

“Atearam fogo na nossa redação, mas não apagaram nossa vontade de fazer diferença, na vida da comunidade, na vida das pessoas, nas nossas vidas. A Voz da Comunidade nasceu de um sonho que vem se tornando realidade nos últimos anos pelo esforço de gente que gosta, que quer e que vem realizar junto conosco a cada dia um jornal melhor, eventos maiores, transformando o Complexo do Alemão em uma comunidade mais feliz e de gente com perspectiva, de olho em um futuro melhor.”

Com esta chamada divulgada no Facebook, demonstra que não vai desistir e pede ajuda para reerguer o jornal fundado em 2005. Contatos rene@vozdascomunidades.com.br 

Caça às bruxas não para, recado dado: sequestro-relâmpago de sociólogo no Rio

Matéria da Agência Estado traz um relato absurdo, mas infelizmente não raro para quem trabalha com violação dos Direitos Humanos. Trata-se do sequestro-relâmpago do sociólogo Paulo Baía, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e ex-secretário de Estado de Direitos Humanos, na manhã da última sexta-feira, 19 de julho. Baía foi posto num carro e obrigado a circular pelas ruas do Centro, com quatro homens armados e encapuzados. Ele, que estuda os protestos que eclodiram no País, afirma que foi ameaçado por dar entrevistas a respeito da atuação da Polícia Militar (PM). Ele concedera entrevista ao Jornal O Globo sobre o quebra-quebra no Leblon.
"A polícia viu o crime acontecendo e não agiu. O recado da polícia foi o seguinte: agora, eu vou dar porrada em todo mundo", afirmou ao jornal carioca. O caso foi denunciado à Ouvidoria do Ministério Público (MP) e à chefia de Polícia Civil.
De acordo com o procurador-geral de Justiça, Marfan Vieira, o episódio é "extremamente preocupante", por considerar que há uma clara tentativa de calar uma voz importante no cenário político nacional, o que fere o Estado Democrático de Direito e causa enorme preocupação.
 
Baía caminhava por volta das 7h30 no Aterro do Flamengo, na Zona Sul, quando foi abordado por dois homens armados, com os rostos escondidos por toucas ninjas e óculos escuros, e as cabeças cobertas por capuzes de moletom. Logo em seguida, um Nissan preto, sem placa, estacionou ao lado deles. O sociólogo foi obrigado a entrar.
"Não dê mais nenhuma entrevista, não cite a Polícia Militar de forma alguma, senão será a última entrevista que o senhor dará." Baía circulou pelo Aterro, passou pela Avenida Rio Branco e foi deixado em frente à Biblioteca Nacional - um trajeto de 10 minutos. "O recado está dado", disse um dos homens ao liberar Baía.
Dizendo-se sob tensão, mas não amedrontado, Paulo Baía afirmou que no seu entendimento, o que houve foi um "atentado a minha pessoa, mas também à liberdade de imprensa. O motivador foi a matéria publicada hoje (19)." Ele contou que foi a primeira ameaça que sofreu e que pretende mudar a rotina.
 
"Estou impactado, um pouco traumatizado. Esta é uma posição nova para mim - a de vítima. Já vim a essa casa (MP) muitas vezes, trazendo vítimas. Já trabalhei em casos complicados, até mesmo com o crime organizado, mas nunca passei por isso", disse o professor, que também se encontrou com a chefe de Polícia Civil, Martha Rocha, e registrou o caso na 5.ª DP.
Paulo Baía vem estudando há cinco anos a demanda da população por reconhecimento, respeito e novos direitos. Ele tem participado das manifestações e mapeou os grupos que participam dos atos, identificando, inclusive, aqueles que fazem depredações e saques. "É um grupo que comete crime, não vandalismo. Vandalismo é um termo impreciso, incorreto e que desqualifica a manifestação. Esses que fazem saques são criminosos. E fico muito surpreso de a polícia assistir aos crimes e não agir", afirmou o sociólogo.

sábado, 20 de julho de 2013

Violência contra juventude negra é tema de rodas de conversa em Ilhéus (BA)


Desde o mês de junho, o Plano Juventude Viva mobiliza os bairros de Ilhéus. Agora chegou a vez do município de Teotônio Vilela receber informações a respeito do Plano.A partir de terça feira, 16 de julho, a articuladora do Plano em Ilhéus, Sayonara Malta, começou a percorrer o bairro, travando diálogos e levantando dados qualitativos da comunidade sobre sua juventude, além de difundir o debate sobre juventude negra, violência e racismo.

O Plano Juventude Viva constitui uma oportunidade para enfrentar a violência, problematizando a sua banalização e a necessidade de promoção dos direitos da juventude. Além das ações voltadas para o fortalecimento da trajetória dos jovens e transformação dos territórios, o Plano busca promover os valores da igualdade e da não discriminação, o enfrentamento ao racismo e ao preconceito geracional, que contribuem com os altos índices de mortalidade da juventude negra brasileira.

O Plano é fruto do esforço conjunto das instituições do Estado, sob a coordenação da Secretaria Nacional de Juventude em parceria com a Fiocruz, para reconhecer e enfrentar a violência, somando esforços com a sociedade civil para a sua superação.

Mais informações: sayonara.juventudeviva.org.br / 73 8141-5528

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Manguinhos tem cultura!

O Complexo de Manguinhos conta com a presença de diversos artistas,  produtores e agitadores culturais, o que é realidade também  encontrável em inúmeras favelas e regiões periféricas da cidade.

Em Manguinhos, entretanto, tais atores culturais passam ainda mais despercebidos, vide a permanente citação do bairro e das adjacências em noticiários ligados à violência e, claro, também à condição de estigmas preconceituosos comumente agregados a favelas, a piorar quando estas se localizam no subúrbio da cidade.

Venha conhecer nossa rua, venha para a nossa Mostra Cultural, dia 20 de julho, na Biblioteca Parque de Manguinhos!

Confira nosso blog: http://www.manguinhoscultural.wordpress.com

Chamada do Ubirajara Rodrigues: http://manguinhoscultural.wordpress.com/2013/07/19/ubirajara-rodrigues/
Chamada da Ladies Gang: http://www.youtube.com/watch?v=HG-9c0k6Dto

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Queimado LGBT do Mandela 2, sucesso total

Diretamente da quadra do Centro Sócioesportivo Mandela 2, com Graciara da Silva, Gagui, do Conselho Comunitário de Manguinhos, GT Educação, Cultura, Esporte e Lazer, que ajudou na articulação e divulgação do evento.

A arrumação da quadra começou por volta das 12h, e lá pelas 14h foi dado início ao jogo. 

A galera estava bastante animada participando de uma maneira bastante descontraída junto as torcidas de outras comunidades - Jacaré, Cidade de Deus, Complexo da Penha, Complexo do Alemão, Nova Holanda, Morro da Providência e Arará. 

Todo mundo colaborou com os times do do Mandela 1, Mandela 2, Varginha , Manguinhos e a Favela do Rato todas com suas torcidas organizadas onde o importante era se divertir.

O time vencedor foi os Marrentinhos do Mandela 2. O segundo lugar ficou com a Rua 6 do Mandela 1, o terceiro com a Nova Holanda e o quarto lugar com a Cidade de Deus. Todos receberam suas premiações: troféus e medalhas e o melhor jogador foi Ti Nem Santos.

Ao final do torneio, foi improvisado um concurso de dança, em que 10 participantes interpretaram a cantora Anita. O vencedor foi Yan Lopes do Morro da Providência.

É bacana ressaltar o trabalho duro dos representantes do Conselho Gestor Intersetorial CGI Jaqueline de Paula do segmento de Representações Comunitárias, Francisco de Assis representando o segmento Esporte e Rafael representando Conselho Gestor do Centro de Saúde Escola Germano Sival Farias (CGCSEGSF) com a participação do Conselho Comunitário de Manguinhos e seu GT de Educação, Cultura, Esporte e Lazer trabalhando com toda divulgação e mobilização comunitária.
 
O bacana é que tudo foi regado com a distribuição de preservativos, materiais ilustrativos incentivando a conciencitização do sexo seguro.

Convocação Ato na Vila Autódromo

A Comunidade de Moradores e Pescadores da Vila Autódromo, em tempos de luta pela cidadania plena e pela conquista de todos os direitos que foram sequestrados das trabalhadoras e trabalhadores desta cidade, CONVOCA todas as Comunidades, os Movimentos Sociais e seus apoiadores para um ATO DE PROTESTO na Comunidade:

1. Pelo direito à moradia e à cidade!
2. Não às remoções!
3. Contra a militarização da polícia!

Vamos participar e divulgar!!

A Juventude Quer Viver! na JMJ

A Juventude quer viver! é o tema do painel da Tenda das Juventudes na Jornada Mundial da Juventude Rio 2013, que será realizado entre os dias 22 e 26 de julho. Este painel vai ser realizado na terça-feira, 23, das 10h às 12h, após a realização do Ofício Divino da Juventude, das 8h às 9h. Após o painel 2, com o tema Justiça e Transição, memória e compromisso, haverá missa de abertura da JMJ com Dom Orani (Copacabana), às 19h30.

O objetivo da Tenda das Juventudes é ser um espaço reservado para os encontros paralelos organizados por diversas organizações durante o evento no Rio de Janeiro, uma atividade como espaço de debate e reflexão da realidade juvenil e políticas públicas para a juventude.
Os oito painéis temáticos contarão com a participação de convidados que contribuirão com o seu olhar para o mundo juvenil. Cada mesa temática terá a duração de 1h30 a 2h, garantindo tempo para a interação dos presentes na atividade. Em breve será divulgado o nome dos convidados para cada mesa temática.

Como chegar
A atividade acontecerá na Paróquia Santa Bernadete, localizada na Av. dos Democráticos, 896, no bairro Higienópolis, Rio de Janeiro/RJ. O acesso ao local poderá ser feito preferencialmente pelo Metrô e Trem. O local da tenda está localizado a cerca de 10 minutos da estação de metrô Maria da Graça (linha 2 – Verde (sentido Pavuna) e cerca de 15 minutos da estação de trem Maguinhos. Visando a facilidade de acesso, o trajeto contará com sinalização e pessoas para orientar os peregrinos.

Para confirmar presença na atividade ou ter acesso a mais informações do evento, acesse a página da Tenda no Facebook, por meio do link:http://fb.com/events/1385192211698939/.

Serviço
Data: 22 a 26 de julho de 2013
Horário: 8h às 23h (a partir do dia 23 de julho); no dia 22 de julho o horário de funcionamento será de 15h30 às 23h. Importante verificar a programação descrita no link 
http://goo.gl/GpKqQ, assim como o mapa explicando como se chegar ao local.
Local: Paróquia Santa Bernadete, na Av. dos Democráticos, 896, no bairro Higienópolis, Rio de Janeiro.



Quantos Jacksons ou Joões, jovens negros brasilieiros, têm de morrer ?

Por Sandra Martins

Os homicídios são, atualmente, a principal causa de morte de jovens brasileiros com idades entre 15 a 29 anos, e atingem especialmente jovens negros do sexo masculino, moradores das periferias e áreas metropolitanas dos centros urbanos. Os dados do Ministério da Saúde revelam uma cruel realidade: em 2010, mais da metade (53,3%) dos 49.932 mortos por homicídios eram jovens, dos quais 76,6% negros (pretos e pardos) e 91,3% do sexo masculino.
 Indianara Siqueira, da Marcha das Vadias, coordenou
o GD Conservadorismo religioso e políticas públicas
(estatuto do nascituro, comunidades terapêuticas,
homofobia etc), no ENPOP.

Os dados são duros para com os jovens, mas também para com suas famílias, muitas delas, acuadas pelo medo da morte iminente na busca por justiça. Como ocorreu com o caso do assassinato de Jackson Antônio Souza de Carvalho, 15 anos, nascido em Ilhéus e morto em Itacaré, Sul da Bahia. Ele foi executado, dia 26 de junho, com tiros de espingarda calibre 12 e enterrado de cabeça para baixo, num cemitério clandestino – ponto de desova de grupos de extermínio daquela região, que segundo ativistas locais, neste local já morreram mais de 20 jovens.
Hamilton Borges, Reaja ou Será Morto, Reaja ou Será Morta,
sentado ao lado de Débora Maria da Silva, Mães de Maio

Jackson e sua família entraram para as estatísticas de violência contra jovens negros e ameaça aos familiares que exigem justiça, o combate às violações dos direitos humanos e a impunidade. Um dia após encontrarem o corpo do menor, seus familiares – num total de 11 membros, entre idosos, adultos, jovens e crianças – deixaram sua cidade natal, Itacaré, escoltadas pela polícia, após uma noite de pânico em que cinco homens fortemente armados ameaçaram aos gritos atirar nas casas vizinhas a casa onde rapaz morava com os pais. Seu pai, Tonny é ativista do movimento negro com forte atuação no município. Em função das ameaças, uma rede de proteção acolheu a família, que em pouco menos de um mês teve que se mudar pelo menos três vezes.


Esta rede de proteção foi construída com a parceria da Casa do Boneco com a Campanha Reaja ou Será Morto, Reaja ou Será Morta. Este e outros casos que entraram nas estatísticas de violência letal contra jovens negros foi tema debatido no ENPOP - Encontro Popular Sobre Segurança Pública e Direitos Humanos que aconteceu entre no último final de semana, 12 a 14, no Rio Comprido. O evento teve como objetivo articular movimentos sociais, organizações de direitos humanos e moradores de regiões impactadas por intervenções militares ou por grandes reformas urbanas. 

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Conferência regional de promoção da igualdade racial em Água Branca reuniu 28 municípios alagoanos

A Conferência Regional do Alto Sertão e Bacia Leiteira, na cidade de Água Branca, realizada no último dia 4 de julho, reuniu 28 municípios alagoanos e cerca de 240 pessoas. De acordo com a Comissão Organizadora Estadual (COE) da III Conferência Estadual de Promoção da Igualdade Racial (COEPIR), o número de participantes superou as expectativas. A região é a que mais congrega comunidades quilombolas em Alagoas, além de ciganos, capoeiristas e religiosos de matriz africana. A COEPIR antecede a conferência nacional, III CONAPIR, que será realizada entre os dias 5 e 7 de novembro deste ano.

Para subsidiar os debates, estiveram presentes os seguintes palestrantes: Geraldo Majella, superintendente dos Direitos Humanos (Secretaria Estadual da Mulher, Cidadania e Direitos Humanos); a jornalista Valdice Gomes (diretora do Centro de Cultura e Estudos Étnicos Anajô, presidente do Sindjornal e integrante da Cojira/AL); Edson Bezerra, professor de Antropologia na Universidade Estadual de Alagoas (Uneal); Zezito Araújo, da Secretaria de Estado da Educação e Coordenador do Curso de História do Centro Universitário CESMAC; e Arísia Barros, coordenadora do Instituto Raízes de Áfricas. 

Após as palestras aconteceram os GTs dos eixos temáticos: Eixo 1 - Estratégias para o desenvolvimento e o enfrentamento ao racismo. Eixo 2 - Políticas de igualdade racial no município e no Estado: avanços e desafios. Eixo 3 - Arranjos Institucionais para assegurar a sustentabilidade das políticas de igualdade racial e eixo 4 - Participação política e controle social: igualdade racial nos espaços de decisão; mecanismos de participação da sociedade civil no monitoramento das políticas de igualdade racial.

Foram aprovadas 20 propostas, entre elas: Criação do Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial, escolas adaptadas para comunidades quilombolas, garantia de água potável para comunidades quilombolas, implantação de PSF nas comunidades quilombolas, criação do Fórum Intergovernamental de Promoção da igualdade Racial, desburocratização do processo de titularidades de terras quilombolas através do Incra.

Apesar de as questões inerentes às políticas de Juventude não terem sido pautadas nesta conferência regional, o articulador regional do Plano Juventude Viva, Denivan Lima, está acompanhando todo o processo conferencial e procura sensibilizar os diversos atores sociais para a importância dos debates sobre as demandas específicas da juventude negra e do Plano Juventude Viva – que busca promover os valores da igualdade e da não discriminação, o enfrentamento ao racismo e ao preconceito geracional, que contribuem com os altos índices de mortalidade da juventude negra brasileira.

O Plano é fruto do esforço conjunto das instituições do Estado, sob a coordenação da Secretaria Nacional de Juventude em parceria com a Fiocruz, para reconhecer e enfrentar a violência, somando esforços com a sociedade civil para a sua superação.


A próxima conferência regional será no dia 18, em União dos Palmares, que envolverá toda a Zona da Mata. No dia 25, acontece a de Arapiraca, atingindo toda a parte do Agreste, e dia 31, ocorre a de Maceió, envolvendo tanto a região Metropolitana quanto o Litoral Norte.

terça-feira, 16 de julho de 2013

Da Senzala às Favelas: violências de Estado e resistência popular

 Por Sandra Martins
O Encontro Popular sobre Segurança Pública e Direitos Humanos – ENPOP – realizado entre os dias 12 e 14 de julho, possibilitou uma intensa troca entre ativistas de movimentos sociais, organizações de direitos humanos e moradores de regiões impactadas por intervenções militares ou por grandes reformas urbanas. As praças eram diversas, os sotaques também, mas uma agenda transversal trazia históricos comuns de opressão e questionamentos sobre que tipo de modelo de cidade estava sendo gestado.

Após extensas discussões, iniciadas na sexta-feira com intervenções musicais entremeadas de falas contundentes, foi realizada, no último dia, uma plenária onde foram apresentadas duas moções: uma contra o turismo na favela feito por algumas organizações não governamentais e o Estado; e outra contra o fechamento da Rádio Comunitária Prazeres, que abarcava os Morros dos Prazeres e Escondidinho, no bairro de Santa Teresa, no Rio de Janeiro. O encontro produziu uma carta contendo as principais propostas oriundas dos grupos de debates, todos os encaminhamentos dos GDs integrarão um caderno a ser disponibilizado posteriormente. A articulação do ENPOP agendou para o dia 10 de agosto a próxima plenária, em local a ser definido.

Sob o tema Violências de Estado e Resistência Popular no Rio de Janeiro, o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL), presidente da Comissão de Direitos Humanos da ALERJ, ao fazer críticas ao atual modelo de desenvolvimento citou a redução dos índices de homicídios da população jovem branca comparando os anos de 2002, 2006 e 2010, foram assassinados 18.800, 15.700 e 13.600, respectivamente. Entretanto, a comemoração teve um sabor amargo ao se comparar o contraponto com a população de jovens negros. Em 2002, foram mortos 26mil; em 2006, 29mil; e, em 2010, 33mil. “Este é o modelo de sucesso de segurança que está colocado nas grandes cidades brasileiras. Não quero discutir redução de homicídio, mas quem está morrendo. Porque desfaz o debate da luta de classe e se redescobre um outro: o do genocídio direcionado aqueles que parecem não servir a uma sociedade de mercado.” 

Freixo alertou que não haverá avanços se o debate ficar restrito a desmilitarização da polícia. Deve haver é a desmilitarização da concepção de segurança que está em toda a estrutura do Estado, que vem criminalizando a pobreza. “A esquerda demorou muito para fazer o debate da segurança pública. Não era um debate que caia bem. Era melhor fazer o debate sobre a terra, a saúde. O debate da segurança pública era o debate do opressor. Perdemos um tempo precioso. Que bom que superamos isso. Eu não estou preocupado com o black bloc [grupos que se autodenominam de anarquistas e pregam a desobediência civil. Grupos usam roupas pretas e máscaras para dificultar identificação.], e sim com o blue bloc [polícia militar] que está fazendo uma varredura nas ruas. O desafio é longo”, concluiu.
Marcelo Freixo escuta a fala firme de Daizeca

A opressão vivenciada nas comunidades de baixa renda, na concepção de Daizeca Carvalho, da Rede de Comunidades e Movimentos Contra a Violência, é secular. “Continuamos a viver na senzala: os capitães do mato são os soldados da UPP; não existe mais a chibata, mas os fuzis; não existe mais o tronco, mas a tortura. A UPP está entrando nas comunidades para extorquir os traficantes que continuam dentro da comunidade, mas não se intervém naqueles que estão nas áreas nobres. Já ouvi de um policial que UPP significa Unidos do Poder Paralelo. É muito complicado falar de segurança pública quando o maior violador é o próprio Estado.” 

Reaja ou Será Morto - A diferença de tratamento não é novidade na historiografia brasileira. Hamilton Borges, do Reaja ou Será Morto, Reaja ou Será Morta, afirmou que o racismo é a contradição principal do Estado brasileiro. Na prática provaram isto. E citou que nas manifestações no Rio de Janeiro, São Paulo e Bahia, foram presas 15 pessoas, entretanto, os porta-vozes dos movimentos eram invariavelmente pessoas brancas de classe média ou de pele clara. Dos presos, apenas um teve a cabeça raspada – o rapaz negro. Este ato tem um significado fundamental para os africanos, não podemos prescindir do pertencimento racial desvinculado da ideia de civilização. Nós fomos um povo trazido à força para construir um outro território, chamado de Brasil.” 
Hamilton Borges

Ao falar rapidamente da forma como surgiram as primeiras corporações da Polícia Militar, Hamilton citou que a mais antiga “máquina de guerra” da população brasileira foi a baiana, em 1835, cuja atribuição principal, por ordem da Coroa Real, era intervir em um quilombo chefiado pela arqueira Zeferina. Este quilombo ficava na região de Pirajá, um bairro afastado do centro de Salvador. A Polícia Militar – Brigada Militar – foi criada com uma visão específica de quem deveria ser abatido e contido: isto diz respeito ao processo histórico. E, ainda hoje a PM utiliza o modus operandi de matar do período imperial: eles enterravam ou mutilavam o negro para que servisse de exemplo para não se rebelarem. Foi o que fizeram com o jovem Jackson Antônio, assassinado aos 15 anos e enterrado de cabeça para baixo no município de Itacaré, Bahia.

O papel das mulheres negras no processo de resistência era e continua sendo fundamental; assim como das organizações de mulheres e de homens negros que estão nas comunidades até hoje - escola de samba, capoeira, terreiro de candomblé, o samba, o funk. “Por isso posso dizer que sou um povo dentro de um território hostil e, por isso sou morto pelo Estado brasileiro e seu braço armado. É fundamental criarmos redes protetivas em caráter nacional. Porque estamos combatendo um estado democrático de direito de um governo fundado uma perspectiva de esquerda. E, queremos debater o que significa esquerda e quais são suas bandeiras. Para que a esquerda que está aqui com a gente, amanhã não nos dê sopapo. Vivemos um processo histórico de traição política.”

Resolução nº 013 - “Tomando por pauta o extermínio da Juventude Negra o Fórum de Juventude do Rio de Janeiro propôs estar mais nos espaços de discussões e ocupando mais as favelas incidindo em políticas públicas a partir destes espaços”, disse Monique Cruz. Um dos temas para reflexão são as ocupações militares para além das UPP. Existem outras áreas da cidade que ainda continuam convivendo com uma política de enfrentamento de ocupação militar, incluindo as áreas de milícias – sem as operações, mas também uma ocupação.

A militarização das polícias e a militarização dos territórios ocupados pela UPP mostram a face das diversas políticas públicas colocadas nessas regiões. A Resolução nº 013 é uma destas situações, em que a polícia decide que tipo de evento a comunidade vai ter. Em Manguinhos, o comandante da UPP assumiu a intermediação entre os órgãos do Estado e a população para discutir políticas públicas de habitação, remoções. “Hoje continua tendo a mediação armada dos conflitos nos territórios, se antes era com o tráfico, hoje é com a polícia.” 

Para Monique, pensar favela nos nossos espaços é pensar a desconstrução do conceito de pessoas da favela. "Os partidos políticos, a esquerda, principalmente, têm de desconstruir alguns conceitos que trazem culturalmente. O que se precisa é discutir a favela respeitando a cultura local, suas resistências, as organizações já existentes. Considerar os territórios respeitando as suas especificidades e pensar o que queremos construir juntos".

A periferia nunca dormiu - Para Débora Maria da Silva, da Mães de Maio, organização que lançou o livro Mães de Maio, Mães do Cárcere, é muito importante discutir segurança pública, “porque quem ia pra rua eram as mães e familiares para esta discussão. O gigante acordou? A favela nunca dormiu! A periferia nunca dormiu! A periferia nunca dormiu, porque o Estado nunca deixou. Segurança pública é um assunto de todos e desmilitarizar a polícia é o dever de todos.” 

Ela afirma que a desmilitarização lhe pertence. Assim como cada um que tomba é como se fosse um filho seu: “não importa se ele é bom ou bandido, é meu filho”, disse afiançando que a transformação depende de cada um.

Como no título da mesa, Das Senzalas às Favelas: Criminalização da Juventude Negra e Guerra às Drogas, Débora diz que a senzala é a favela. “Os porões dos navios negreiros são os presídios, que só deparamos com negros e negras. Vemos que a especulação imobiliária incendeia as casas de pobre, como ocorre em são Paulo e agora acontece aqui [no Rio de Janeiro].” 

E, fazendo alusão às manifestações, Débora afirma que muita gente foi para as ruas despreparada; “se tivessem preparo, não sairiam das ruas. Só quem sabe mesmo é quem sofre o dia-a-dia. E a pior coisa do mundo é enterrar o filho”, como ocorreu quando esteve no Espírito Santo, em que as mães relataram as mortes de seus filhos e mostravam as fotografias denunciando os corpos queimados: uma infeliz prática de lá.”

A mesma vontade de continuar buscando a transformação que está dentro de cada um é também a perspectiva do repper Fiell, Visão da Favela Entre Silêncios e Resistências. “Lutar pelos direitos humanos é quase suicídio”, disse o co autor, junto com amigos, de uma cartilha sobre abordagem policial lançada no período da implantação da UPP no Morro Santa Marta, , em 2008, primeira do município. A repressão foi forte, com direito a prisões. “Entrou a UPP e toda a pedagogia militarizada – racismo, abuso de poder etc. – dentro de uma comunidade sem respeitar a cultura local.”